Os dados são do Conselho Federal de Farmácia (CFF). Órgão está em campanha desde quarta-feira, 4, contra a automedicação no Brasil
Há duas semanas, o menino alcançou a estante de sua casa onde continha um vidro de um estimulante de apetite. A prática já é comum na família, mas tomou novo contorno quando Taylon ingeriu 20 dos 90 mililitros que o frasco tinha. A criança ficou hospitalizada por 9 horas e levou dois dias para recuperar a saúde. O caso aconteceu na Bahia.
A partir disso, mas também por outras situações, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) lançou uma campanha neste mês de dezembro. Objetivo é assegurar que a venda desses medicamentos isentos de prescrição, os MIPs, apenas ocorra em farmácias, sob a supervisão de farmacêutico.
Já existem Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional que propõem a liberação da comercialização dos MIPs em supermercados e estabelecimentos similares, como quitandas, feiras e hotéis. Segundo projeto, a ideia é “ampliar o acesso a esses medicamentos, que têm venda livre”.
Embora não exijam receita médica, os MIPs não são isentos de riscos. As estatísticas do Datatox, sistema usado por 17 dos 33 centros de notificação de casos de intoxicação no País apontam a ocorrência de 9 mil casos de intoxicação por MIPs em 10 estados, em um período de quatro anos.
“Considerando que o Brasil tem 27 unidades federativas, e que a maioria dos casos que chegam aos centros de informação e assistência toxicológicas são aqueles que demandam socorro médico, o número de vítimas de intoxicação certamente é bem maior”, avalia o presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge João.
Ele lembra que metade das vítimas envolvidas nestes mais de 9 mil casos foram crianças pequenas como Taylon Gustavo. “Medicamento é coisa séria! Por trás de cada número há uma vida em risco. Nossa campanha foi pensada em defesa da saúde da população e do direito dos brasileiros à assistência farmacêutica integral”, ressalta.
A campanha televisiva segue até esta segunda, 9. Nas mídia sociais, ela será permanente.
Erros de medicação acarretam uma morte por dia e prejudicam 1,3 milhão de pessoas ao ano nos Estados Unidos. Os números são semelhantes no Brasil
Estimativas em um estudo realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no ano de 2017 apontam para um gasto de R$ 60 bilhões anuais com a assistência às vítimas de danos causados por medicamentos. “O Brasil tem 85 mil farmácias e 220 mil farmacêuticos. Não há argumentação econômica, sanitária ou social que justifique a venda de medicamentos em supermercados e similares”, reitera Walter.
Para o Sistema Conselho Federal de Farmácia/Conselhos Regionais de Farmácia (Sistema CFF/CRFs), ampliar o acesso aos medicamentos sem qualquer orientação sob o pretexto de que essa medida baixa custos é promover “uma economia burra”. “Colocaremos alguns centavos nos bolsos dos brasileiros para que eles se arrisquem a amenizar (por conta própria) uma dor ou mal estar, mas obrigaremos o Sistema Único de Saúde, o SUS, a despender bilhões de reais com atendimentos emergenciais e internações, e isso, a um custo social gigantesco, de dias perdidos de trabalho, sequelas e até mortes.”
Os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil. Entre 2012 e 2017 foram 241.967 casos, 40% do total de 590.594. São pelo menos três vítimas a cada hora, sendo as crianças as mais afetadas.
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