O Museu Nacional do Rio de Janeiro, consumido por um incêndio na noite deste domingo, conta com um dos maiores acervos de antropologia e história natural do país – são cerca de 20 milhões de itens.
Localizado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, é o museu mais antigo e uma das instituições científicas mais importantes do Brasil.
Fundado por Dom João 6º no dia 6 de agosto de 1818, o museu acabou de completar 200 anos.
Atualmente, era administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, por ser universitário, tinha caráter acadêmico e científico.
Muitas peças do acervo são exemplares únicos – de esqueletos de dinossauros a múmias egípcias, passando por milhares de utensílios produzidos por civilizações ameríndias durante a era pré-colombiana.
- Luzia
Entre os itens provavelmente destruídos pelo fogo, está uma das principais atrações do museu: o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, batizado de Luzia.
Descoberto em 1974, pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire, em Minas Gerais, teria 11.300 anos.
- Sala dos dinossauros
Um dos grandes destaques da coleção de paleontogia, é o esqueleto Maxakalisaurus topai, o primeiro dinossauro de grande porte a ser montado no Brasil. A ossada foi encontrada em Minas Gerais.
Após um ataque de cupins na base de sustentação, em 2017, o Maxakalisaurus topai foi desmontado e guardado em caixas em um canto da sala de dinossauros, que foi fechada. O espaço foi reaberto em julho deste ano, após uma campanha de financiamento coletivo na internet.
De acordo com seus catálogos, o Museu Nacional possui uma das mais importantes coleções paleontológicas da América Latina, totalizando 56 mil exemplares e 18,9 mil registros.
A coleção consiste principalmente de fósseis de plantas e animais, do Brasil e de outros países, além de reconstituições e réplicas.
- Meteorito Bendegó
A coleção conta ainda com o meteorito Bendegó, encontrado em Monte Santo, na Bahia, em 1794. Com 5.260 kg, a peça está na instituição desde 1888.
Por se tratar de um objeto metálico pesado, pode ser um dos poucos itens do museu que tenha sobrevivido às chamas.
- Caixão de Sha Amun en su
Com mais de 700 peças, a coleção de arqueologia egípcia do Museu Nacional é considerada a maior da América Latina e a mais antiga do continente – com múmias e sarcófagos.
O caixão de Sha Amun en su é uma das atrações mais populares da seção. Trata-se de um presente que Dom Pedro 2º recebeu, em 1876, em sua segunda visita ao Egito.
- Trono de Daomé
Outra raridade do acervo é o trono do rei africano Adandozan (1718-1818), doado pelos embaixadores do rei ao príncipe regente Dom João 6º, em 1811.
- Coleção de arqueologia clássica
Uma das coleções mais valiosas do museu é a de arqueologia clássica, composta por 750 peças das civilizações grega, romana e etrusca.
Devido ao tamanho e ao valor, foi considerada o maior do gênero na América Latina.
- Artefatos de civilizações ameríndias
O acervo de etnologia tinha artefatos da cultura indígena, como objetos raros do povo Tikuna, e afro-brasileira, além de itens de culturas do Pacífico. Havia pelo menos 1.800 artefatos de civilizações ameríndias da era pré-colombiana.
Segundo a historiadora Heloísa Bertol Domingues, o museu foi concebido nos moldes de instituições europeias. Na época da inauguração, quando o local ainda se chamava “Museu Real”, Dom Pedro 1º escreveu que o objetivo era “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil”.
‘Tragédia para o Brasil e para o mundo’
Em nota, o Museu Nacional afirmou que ainda está mensurando os danos ao acervo.
“É uma enorme tragédia. A hora é de união e reconstrução. Infelizmente, ainda não conseguimos mensurar o dano total ao acervo, mas precisamos mobilizar toda a sociedade para a recuperação de uma das mais importantes instituições científicas do mundo”, afirmou Alexander Keller, diretor do Museu Nacional, no texto.
A doutora em antropologia Alba Zaluar, que estudou no museu, classificou o incêndio como “uma imensa tragédia para o Brasil e para o mundo”.
“O acervo do Museu Nacional é uma coisa única no Brasil, não tinha nada igual no país”, afirmou Zaluar à BBC News Brasil.
“O prédio foi residência da família real. Tinha uma biblioteca da área de antropologia importantíssima. Estamos arrasados.”
O presidente Michel Temer (MDB) disse, em nota, que o incêndio causou uma perda “incalculável ao Brasil”.
“Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros”, escreveu.
Prédio não teria alvará, segundo bombeiros
O incêndio começou às 19h30, quando o museu estava fechado, e só havia quatro seguranças no interior. Não foram registradas vítimas.
A reportagem da BBC News Brasil esteve no local. Em meio a um cenário de desespero, cidadãos ofereciam ajudam aos bombeiros para tentar debelar o fogo. Por volta das 23h20, o incêndio ainda não estava controlado.
Segundo o coronel Roberto Bobadey, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, membros da corporação tiveram problemas para encontrar água em hidrantes da região.
“Os dois hidrantes mais próximos estavam sem carga. Estamos usando o lago da Quinta da Boa Vista e de carros-pipa”, disse.
O coronel também afirmou que o prédio não tinha alvará dos bombeiros para funcionar.
As causas do incêndio ainda são desconhecidas.
*Com reportagem de Júlia Dias Carneiro e Leandro Machado
Sistema Asa Branca de Comunicação
FONTE: BBC News