As extorsões enfrentadas pelos provedores de internet no Ceará nos últimos meses de 2025 já são ‘velhas conhecidas’ dos comerciantes do Centro de Fortaleza. Desde 2023, a Polícia Civil apura denúncias de ameaças e ataques enfrentados por proprietários de lojas de diversos ramos no Centro da Capital.
Os valores cobrados das vítimas variam de R$ 30 a R$ 30 mil, sendo R$ 30 um tipo de ‘caixinha’ cobrada de travestis e ‘garotas de programa’ que atuam na região. Para vender drogas no Centro, R$ 200; àqueles que comercializam ouro, uma, duas ou três gramas do metal, a depender se a empresa é grande ou pequena.
Aos lojistas de setores, como, lojas de tintas e de suplementos, o valor exigido era mais alto: de R$ 10 a R$ 30 mil.
A Polícia Civil do Estado do Ceará disse por nota que “existe um inquérito policial em andamento para apurar supostas extorsões sofridas por empresários na região do bairro Centro, na Área Integrada de Segurança 04 (AIS 04) de Fortaleza. Mais informações sobre o caso serão fornecidas em momento oportuno para não atrapalhar as investigações”.
A reportagem buscou a Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL de Fortaleza) a fim de saber das ameaças. Como resposta, a CDL disse que “nos últimos 30 dias, no período noturno, foram furtados, no Centro de Fortaleza, fios de internet, de energia elétrica, além de cobre de aparelhos de ar-condicionado, conforme relato de alguns lojistas da região” e propõe reforço de policiamento ostensivo noturno.
AMEAÇAS
“Pega a visão, não é golpe de cadeia”, “mim bloquei e já vou saber a sua resposta. Aí é guerra porque lá você não trabalha mais” e “pague sua taxa e trabalhe de boa” (sic), são algumas das frases ameaçadoras que um membro do Comando Vermelho (CV) teria enviado no Whatsapp de empresários.
Em um dos casos que ele estaria por trás, criminosos chegaram a incendiar o cadeado colocado na porta de uma loja, tendo o proprietário do estabelecimento recebido a mensagem: “agora você acredita que não é golpe. Isso foi só um alerta pra você mim pagar” (sic)

Em outra situação, o denunciado teria enviado foto do filho da vítima a fim de intimidá-la.
A reportagem teve acesso a documentos que trazem detalhes da investigação acerca das ameaças aos comerciantes do Centro. A Polícia passou a ter conhecimento dos casos quando um empresário prestou Boletim de Ocorrência em 2023.
No fim daquele ano, as ameaças começaram a ser cumpridas. O cadeado da loja foi queimado, como um aviso
“Assim, constatou-se após se realizar as oitivas de vítimas e interrogatórios dos envolvidos, que Valdenir Lima Saraiva é quem praticava as extorsões contra os comerciantes… Por óbvio, Valdenir não aparecia, e se valia de terceiros para receber os valores, bem como de terminais diversos para passar despercebido, tendo utilizado a conta de Gisely Raynara Rolim de Souza para praticar as extorsões e a indicação de Everton Batista Cardoso para que Gisely fornecesse a conta para viabilizar a extorsão”, segundo denúncia do MPCE contra o trio.
Gisely teria papel de ‘laranja’ para receber os valores. Ela foi presa em novembro de 2023, quando confessou ficar com uma parte do valor. Já no último mês de março, teve a prisão substituída por medidas cautelares, como o monitoramento eletrônico. Everton segue preso e Valdenir na condição de foragido.
As defesas dos acusados não foram localizadas pelo Diário do Nordeste
ATAQUES A PROVEDORES DE INTERNET
Em pouco mais de um mês, pelo menos 15 ataques a provedores de internet foram registrados no Estado. Após as primeiras ofensivas em Fortaleza, os ataques se concentraram nas cidades de Caucaia e Caridade.
A facção vem cobrando, em média, R$ 20 por cada cliente de cada provedor.
Na última semana, a SSPDS disse que “as ações integradas das Forças de Segurança do Estado contra suspeitos de ataques a empresas provedoras de internet já resultaram nas capturas de 46 pessoas”.
VEJA NOTA DA CDL FORTALEZA NA ÍNTEGRA:
“Nos últimos 30 dias, no período noturno, foram furtados, no Centro de Fortaleza, fios de internet, de energia elétrica, além de cobre de aparelhos de ar-condicionado, conforme relato de alguns lojistas da região. Apesar desses incidentes, é importante salientar que, durante o dia, há um reforço na segurança pública na área central, com policiamento e ações voltadas para a proteção dos consumidores, empregados do comércio, lojistas e frequentadores do Centro. No entanto, à noite, a diminuição do policiamento e a precariedade nas condições das ruas tornam o Centro um local vulnerável à criminalidade, além de se tornar um reduto de moradores em situação de rua, que se abrigam sob marquises, praças e calçadas das lojas.
Diante disso, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza propõe uma série de ações para melhorar a segurança da região. Primeiramente, é essencial reforçar o policiamento noturno, com aumento no número de policiais nas ruas, principalmente nas áreas mais críticas, como as imediações de praças e ruas de grande circulação.
Esse policiamento ostensivo visa não apenas inibir ações criminosas, mas também proporcionar uma maior sensação de segurança para a população. Além disso, a ampliação da instalação de câmeras de segurança vinculadas ao Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia), nas vias mais afetadas pela criminalidade, é uma ferramenta eficaz para o controle da área. As câmeras servem tanto para identificar infratores quanto para desestimular práticas delituosas.
Outro ponto importante é a melhoria na iluminação pública, especialmente nas principais ruas do Centro, onde a boa iluminação pode ser fundamental na prevenção de crimes. A Prefeitura deve investir na ampliação da iluminação, garantindo que as vias de maior circulação estejam bem iluminadas durante a noite.
Em paralelo, é urgente a implementação de políticas públicas voltadas para os moradores em situação de rua. A proposta inclui o mapeamento da situação desses indivíduos, com a criação de um cadastro que possibilite o encaminhamento para abrigos, onde possam ter acesso a moradia digna e a cursos de capacitação profissional.
Por fim, para requalificar a região, a Prefeitura deve criar mecanismos que incentivem o povoamento do Centro. A ideia é atrair mais moradores locais, o que traria vida noturna e maior circulação de pessoas na área. Esse movimento também estimula a instalação de empresas e lojas no período noturno, contribuindo, assim, para um novo momento da região central da cidade”.