Boa Viagem pode abrigar primeira mina de diamantes do Ceará


Uma pesquisa mineral em andamento busca confirmar a presença de diamante industrial no município de Boa Viagem, no Sertão Central do Ceará, a cerca de 220 quilômetros (km) de distância de Fortaleza. O estudo, que tem validade até 2028, pretende verificar se há viabilidade para extração da pedra preciosa na região.

Segundo o MME, o processo para extração de diamantes em Boa Viagem tem como titular a empresa H C Mineração Ltda. O pedido foi requerido à ANM no ano passado. Em janeiro de 2025, a pesquisa foi autorizada e tem alvará válido por três anos.

 

Até 2028, a pasta define que a empresa “deve realizar a pesquisa e submeter o relatório final de pesquisa para aprovação da ANM. Se aprovado, poderá solicitar/requerer a lavra.

 

O prazo de três anos para realização da pesquisa poderá ser renovado pela ANM, “desde que apresentadas as devidas justificativas pelo interessado/titular da área/processo minerário”.

Essa pesquisa é realizada em uma área de cerca de 2 mil hectares (ha) fora da área urbana de Boa Viagem. Trata-se d o único projeto atual que pesquisa a viabilidade da extração de diamantes no território cearense.

Como está a pesquisa para extração de diamantes em Boa Viagem?

Todos os processos exigidos pela ANM estão descritos em relatório público disponibilizado. Desde o pedido, em outubro do ano passado, as atualizações incluem a autorização da pesquisa e a conciliação de pagamento de taxas.

O pedido inicial foi feito pela Construtora JT, com sede em Bacabal, no interior do Maranhão, e posteriormente assumido pela H C Mineração, sediada em Boa Viagem.

A reportagem tentou entrar em contato com as duas empresas em busca de informações sobre a pesquisa, mas até o fechamento deste material, não obteve retorno com as informações solicitadas.

Cobalto e cobre: “terras raras” e gemas são oportunidades no Ceará

De acordo com o MME, o Brasil tem “220 processos ativos de concessões de lavra para o diamante (gema e industrial) no Brasil”. Quando consideradas as demais fases, como autorização de pesquisa e requerimento de lavra garimpeira, ultrapassam os 3,2 mil para a extração da substância.

No Ceará, o ministério destaca que pelo menos outros “65 processos com áreas autorizadas/permitidas ou concedidas, nas mais diversas fases, regimes e substâncias consideradas como gemas”.

Esse processo é ressaltado pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). Em levantamento recente feito com base em dados da ANM e do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), são várias as oportunidades em destaque no território cearense.

Imagem mostra mão segurando uma pedra onde há o cobalto no que parece ser um laboratório. Fim da descrição.
Legenda: As maiores concentrações de cobalto foram encontradas no depósito de Lagoa do Riacho em uma cidade cearense com cerca de 25 mil habitantes
Foto: Divulgação/Viktor Braga/UFC

 

Estão inclusas as chamadas “terras raras“, grupo de elementos químicos disponíveis em abundância em vários países, dentre eles o Brasil, segunda maior reserva mundial dos minerais, e usados na fabricação de produtos como televisões, smartphones e câmeras digitais.

No caso do Ceará, o cobalto e o cobre são exemplos de terras raras com boas oportunidades em desenvolvimento e potenciais, sugere o levantamento da ANM. O mesmo vale para o urânio, sobretudo na jazida de Itataia, em Santa Quitéria, em processo que se arrasta há algumas décadas na quinta maior reserva do mineral do mundo.

Alvo identificado não indica que local deve se tornar mina, afirmam especialistas

Diário do Nordeste procurou especialistas no setor mineral em busca de análises sobre o desenvolvimento da cadeia produtiva de gemas, especificamente o diamante, em Boa Viagem.

Elves Matiolo, pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), é categórico ao afirmar que de “cada 1 mil alvos identificados, só um ou dois viram mina”.

 

“Tem um investimento bem grande antes mesmo de ponderar um empreendimento mineiro. Depois tem as questões associadas a abrir a mina: sociais, ambientais, fiscais, jurídicas. Não só o Ceará, mas o Brasil, de maneira geral, requer ainda um esforço muito grande de mapeamento geológico para a definição de possíveis alvos minerais”, diz.

 

Para a coordenadora do Laboratório de Mineralogia do curso de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), professora Irani Clezar Mattos, pesquisas para a exploração de diamantes e demais minerais levam em conta uma série de variáveis, além do investimento de risco pela natureza dos empreendimentos.

Foto que contém minerais brutos em campos do Brasil
Legenda: Extração mineral depende de estudos minuciosos e disponibilidade das jazidas
Foto: Serviço Geológico Brasileiro/Reprodução

“Como geralmente esta pesquisa ocorre em áreas remotas, leva tempo para investigar. Além disso, as áreas podem conter regiões de difícil acesso. Depois do estudo detalhado na área, os profissionais podem concluir que o volume de minério cubado não seja suficiente para a comercialização ou que o custo das operações de extração pode inviabilizar o empreendimento”, considera.

“Mineração é sempre um investimento de risco porque, além das variáveis, depende muito do valor do minério no mercado para que a extração seja economicamente viável, ou seja, para que uma ocorrência de um determinado bem mineral vire uma jazida”, completa a professora

Ceará tem “potencial entre médio a alto” para extração de gemas, mas falta de pesquisa é desafio

Irani Clezar Mattos acrescenta ainda que o Estado ainda tem um caminho pouco explorado para a descoberta de gemas, que podem incluir pedras preciosas, além do diamante, como ametistas e turmalinas.

 

“Temos muitas áreas ainda não investigadas de forma detalhada. A extração de gemas em todo Ceará ocorre de forma artesanal, com baixo investimento em técnicas avançadas. O potencial de exploração depende muito do investimento em pesquisas nas áreas de pegmatitos (rochas onde são encontradas as gemas). As principais gemas encontradas aqui são berilos (água-marinha), turmalinas, granadas e variedades de quartzo”, declara a professora.
Irani Clezar Mattos

Coordenadora do Laboratório de Mineralogia do curso de Geologia da UFC

O grande entrave, na avaliação de Elves Matiolo, é o baixo mapeamento dos territórios minerais, não só no Ceará, mas no Brasil como um todo, prejudicando o desenvolvimento da cadeia produtiva.

“De maneira geral, o Brasil ainda é muito escasso no sentido de mapeamento geológico para eventuais potencialidades de minérios em geral. Minas Gerais, Pará e Bahia têm melhores mapeamentos. Como país, a gente requer muito mais investimento na área de pesquisa mineral, que aí se trata da descoberta de depósitos e a partir desses poder virar uma mina”, defende.

 

Foto que contém pedaço bruto de turmalina-paraíba
Legenda: Turmalina é um dos minerais nos quais o Ceará tem potencial
Foto: Carol Garcia/Centro Geológico da Bahia/Divulgação

 

Para o Ceará, a aplicação de terras raras pode ter importante contribuição no setor de energias renováveis, principalmente a eólica, com o uso de componentes oriundos de reservas de cobres e cobalto.

“Interessa muito ao Ceará o polo de produção de energia eólica, na fabricação de ímãs que funcionam nas turbinas eólicas são demandantes de terras raras. Também é importante para a telefonia, para os carros elétricos. O consumo chega a ser seis vezes maior, tanto de cobre quanto de minerais em geral, inclusive terras raras. A tendência é de que tenhamos uma pressão cada vez maior pela necessidade não só de terras raras, mas de bens minerais em geral”, projeta Matiolo.

 

 

Via Diário do Nordeste

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