Incerteza sobre o Pé-de-Meia põe em risco benefício para 282,4 mil estudantes no Ceará; ministros garantem pagamento


Principal programa criado pelo Governo Lula na Educação, o Pé-de-Meia enfrenta, desde a última quarta-feira (22), o risco de ser interrompido após o Tribunal de Contas da União (TCU) bloquear R$ 6 bilhões dos recursos destinados à iniciativa de transferência de renda e combate à evasão escolar. Na prática, a decisão pode afetar 282,4 mil estudantes do Ceará, conforme os dados do Ministério da Educação (MEC) sobre o número de bolsas no Estado.

Para embasar o benefício, o MEC leva também em consideração a taxa de repetência entre os estudantes de escolas públicas: entre os cearenses foi de 1,3, enquanto a taxa de evasão foi de 4, segundo o Censo da Educação Básica de 2022. Isso revela que esses dados estão abaixo das taxas nacionais (que foram de 4,3 e 6,4, respectivamente).

Em passagem pelo Ceará nesta segunda-feira (27) para autorizar a nova etapa da construção do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no Estado, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), disse não ter dúvidas de que o impasse será “sanado”. Ainda na quinta-feira (23), um dia após o bloqueio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), garantiu que o programa não será descontinuado.

 

Camilo Santana segurando microfone, com várias autoridades ao seu lado, em entrevista coletiva à imprensa
Legenda: Camilo Santana falou sobre o impasse com pé-de-meia durante evento que lançou nova etapa de obras do ITA no Ceará
Foto: Thiago Gadelha

 

Ao Diário do Nordeste, o titular do MEC informou que o ministro Augusto Nardes, do TCU, “ficou de avaliar nesta semana” as considerações feitas pelo Governo Federal.

“Não tenho dúvida de que o programa não sofrerá descontinuidade. O questionamento feito pelo ministro foi a questão dos recursos que tinham em um fundo e que foram transferidos para outro fundo. Inclusive, nós nem utilizamos ainda esses recursos, eles seriam utilizados a partir de fevereiro para pagar a parcela dos alunos que passaram de ano e a primeira parcela de fevereiro. Então, não tenho dúvidas que será sanado, porque tudo que fizemos foi aprovado por lei aprovada pelo Congresso Nacional e orientado pelas equipes técnicas da Fazenda, do Ministério da Educação e da Casa Civil. Não tenho dúvidas de que o programa continuará”
Camilo Santana (PT)

Ministro da Educação

 

Para efeito de comparação, a estimativa do MEC de um ano do programa, considerando que todos os beneficiários no Brasil cumpriram os requisitos para receber os benefícios completos, é de R$ 12,5 bilhões.

Em entrevista à imprensa na quinta-feira, Haddad disse que as medidas fiscais aprovadas no ano passado já projetavam que os custos da iniciativa do MEC seriam absorvidos pelo Orçamento — o que não estava previsto no desenho original do programa e foi contestado pelo TCU.

“O encaminhamento que nós demos nas medidas do ano passado foi para orçar o programa na forma que nós entendemos adequada, e que é a mesma que o TCU considera mais adequada”, disse Haddad. “Então, agora, é só uma negociação de transição, mas as medidas aprovadas em 2024 já abriam caminho para essa solução”, completou.

 

282,4 MIL
ESTUDANTES BENEFICIADOS NO CEARÁ

 

Entenda a decisão do TCU de bloquear recursos do Pé-de-Meia

Na decisão, o Plenário do TCU validou uma medida cautelar bloqueando R$ 6 bilhões do Fundo que irriga o Pé-de-Meia. A Corte considerou possíveis irregularidades na origem dos valores, oriundos do Fundo de Incentivo à Permanência no Ensino Médio (Fipem), que é privado e tem patrimônio próprio, mas é integralizado por aplicações e aportes financeiros da própria União, e administrado pela Caixa Econômica Federal.

Pela lei em vigor que rege o programa, o financiamento deve sair de dotações do próprio orçamento. Contudo, ao manter a medida cautelar, o TCU entendeu que parte dos valores transferidos ao Fipem não estariam passando pelo Orçamento Geral da União.

 

12,5 BILHÕES
VALOR PARA UM ANO DO PROGRAMA NO BRASIL

 

“É importante garantir que o valor destinado a cada lei orçamentária seja apenas o necessário para cobrir os gastos do programa naquele ano, respeitando o planejamento anual”, acrescentou o Tribunal, na divulgação sobre o caso.

A solução para o bloqueio seria direcionar recursos do Orçamento para a iniciativa, contudo, a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2025, que deveria ter sido votada no Congresso Nacional ainda no ano passado, ficou para depois do recesso parlamentar, em fevereiro.

A Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu da decisão do plenário do TCU, pedindo a suspensão imediata da medida. No recurso, o órgão defende que “não há qualquer ilegalidade na transferência de tais recursos”. O órgão alegou que, com o bloqueio, só sobrariam R$ 762 milhões para repassar aos estudantes, valor insuficiente para atender todos os beneficiários.

Caso a decisão não seja revertida, a AGU pede que os efeitos da medida ocorram somente em 2026, com um prazo de 120 dias para que o Executivo apresente um plano de adequação para continuidade do programa.

Como funciona o Pé-de-Meia

O Pé-de-Meia paga parcelas mensais de R$ 200 a estudantes que cumprem 80% de frequência nas aulas e são aprovados ao final de cada período letivo. O valor pode ser sacado a qualquer momento. No caso dos alunos da EJA, os pagamentos acompanham o calendário da modalidade.

Os participantes da iniciativa recebem um incentivo por frequência e depósitos ao final de cada ano concluído com aprovação, que podem somar até R$ 9,2 mil por aluno. Os depósitos são feitos pelo MEC em uma conta aberta automaticamente pela Caixa Econômica Federal para os estudantes que cumprem os critérios do programa.

Caso o adolescente seja menor de idade, para movimentar a conta, sacar o dinheiro ou utilizar o aplicativo Caixa Tem, é necessário que o responsável legal realize o consentimento e autorize seu uso. Esse consentimento pode ser feito pelo aplicativo ou em uma agência bancária da Caixa. Se o estudante tiver 18 anos ou mais, a conta já estará desbloqueada para utilização do valor recebido.

 

 

Via Diário do Nordeste

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